sexta-feira, 29 de abril de 2011

Um Caminho com 3000 anos...

A Via de La Plata (ou Caminho Mozárabe) é o caminho Jacobeu de maior extensão, sendo aquele em que se percorre mais quilómetros. Passa pelas Províncias de Sevilha, Extremadura, Salamanca, Zamora, Ourense, Pontevedra e Coruña, atravessando espaços naturais de grande beleza, com um rico património cultural e ecológico.

Esta rota é uma extensão natural do que antigamente foi a estrada romana que liga Mérida e Astorga, cruzando o oeste da Península Ibérica, do sul ao norte com as bacias dos rios Tejo, Douro, Minho.

Actualmente, a Via da Prata é uma das principais vias de comunicação do ocidente espanhol.

Tem o seu início em Sevilha e continua para o norte através das comunidades da Extremadura, Castilla e León dirigindo-se finalmente para Salamanca e Zamora. Após a chegada a esta cidade, o peregrino pode continuar a Via de la Plata até Astorga e cruzar com o Caminho Francês em direcção a Santiago, ou optar por seguir pela Sanabria.


Esta variante é conhecida como Caminho Sanabrés, pois atravessa as terras de Sanabria, entrando na Galiza pela província de Ourense. A separação faz-se em Granja de Moreruela, uma pequena localidade castelhana a norte de Zamora.

Esta vai ser a nossa opção.

A origem histórica da Via da Prata é incerta.
No entanto, tudo parece ter começado com os “Tartessos”, uma das primeiras civilizações urbanas do ocidente a usar várias rotas comerciais na Península Ibérica. No ano 218 a. C a Espanha foi conquistada pelos romanos que utilizaram esses roteiros, em particular, a via romana, antecedente da Via de la Plata, para o deslocamento de tropas e comércio.

Reza a história que Octávio Augusto, nomeado Imperador em 25 a. C, mandou construir uma calçada que unisse Mérida (Emérita Augusta, capital da Província de Lusitânia) com o norte da Península, atravessando o leito dos rios Tejo e Douro, a fim de facilitar o transporte dos exércitos cuja missão era combater os bárbaros.

Esta Via chegou até Astorga (Asturica Augusta) e tinha mais de 500 quilómetros de extensão, sendo que, posteriormente, outros Imperadores, como Tibério e Trajano a ampliaram, em ambos os sentidos, até Sevilha e Gijón.

Com a queda do Império Romano, esses roteiros deixaram de ser utilizados, mas a invasão árabe do século VIII atingiu, inclusive, o noroeste da Península, culminando sua conquista com a queda de Santiago de Compostela, no ano 997. Os árabes batizaram-na então de Bal’latta (Blata), que significa “Caminho de Pedra”.

A Via da Prata, apesar de tudo, nunca foi um caminho de circulação de comércio de prata. Esta denominação deve-se, como em outras ocasiões, a uma evolução - e a esta confusão fonética, que soando a "plata", assim ficou o nome.

À medida que os cristãos iam reconquistando o território espanhol, restabeleceram-se as vias de peregrinação a Santiago, sendo que, por esta antiga calçada romana, iniciou-se uma verdadeira rota de peregrinação ao túmulo do Santo Apóstolo.

Depois da fantástica experiência do Caminho Francês, e já depois de termos concretizado o nosso Caminho Português, a Via da Prata é o nosso destino.

1000km separam-nos do nosso sonho.

De Sevilha partiremos, com a esperança de alcançar Santiago.


Ultreia !

O Desafio...

Após o Caminho Francês realizado em Jun/09, a Via da Prata surge como mais um desafio. O nosso permanente desejo de superação, a necessidade de reflexão espiritual, o contacto com a natureza, o gosto de percorrer longas distâncias num exercício de grande liberdade e autonomia, levam-nos desta vez a meter as nossas amadas pernas e as nossas ilusões no mais longo Caminho Jacobeo.
Percorreremos longas distâncias em cujos trajectos muitas vezes não teremos contacto humano, em que atravessaremos áreas de gado bravo e animais habituados a pouco contacto humano e em que os percursos diários rondarão muitas vezes os 100 km... obviamente estamos perfeitamente conscientes das dificuldades e da dimensão do desafio, mas a única coisa que como sempre nos atormenta é a saudade da família. Sem o seu precioso e incondicional patrocínio estas Peregrinações não seriam possíveis. Cada etapa vencida é uma conquista sempre partilhada.
O treino tem sido intenso, sempre com o apoio do Sousa e do Pedro que muito se têm esforçado por garantirem a nossa preparação. Também eles partem connosco, como não poderia deixar de ser, pois mesmo à distância tudo farão para que consigamos realizar mais este sonho.
A todos os que nos quiserem acompanhar através deste canal, agradecemos os generosos estímulos que certamente nos alimentarão a alma e fortalecerão esta vontade de percorrer um dos mais extraordinários Caminhos...“O Caminho das Estrelas”.

Ultreia!!!

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O nosso treino

Como bons amantes das bicicletas que somos, nunca largamos as nossas montadas por muito tempo. Ainda assim, e apartir do momento em que decidimos avançar com esta viagem, estabelecemos um programa de treinos mais específico.

Embora não seja essencial possuir uma excelente condição física, há que acertar o corpo para distâncias diárias a rondar os 100km.


A componente mental, essa já sabemos que é quase tão ou mais importante que a física. Mas disso, o Caminho nos ajudará...

Os fins de semana foram programados para treinar o mais possível e sempre em percursos semelhantes ao que iremos encontrar.

As serras de Valongo são o nosso lugar de eleição e aí conseguimos ter uma variedade de percursos que aliam a força e a técnica necessárias.

Em alturas de frio e chuva intensa, uma ida ao ginásio "substitui" o treino ao ar livre.

Sempre que o tempo disponível estica mais um bocado, optamos por treinar o Caminho Português (via Braga) que nos fortale as pernas e nos dá motivação para a próxima etapa.



E entre uma nata e uma frigideira, lá vamos repondo as calorias perdidas.. :)




No último treino até deu para dar uma de "MacGyver" e prender o atrelado com um saco plástico para conseguir chegarmos a casa...

Esperemos que não seja necessário mais nenhuma engenhoca!






Centenas de km percorridos e muitas histórias para contar.



quarta-feira, 27 de abril de 2011

As nossas bikes e o material

As nossas laranjinhas estão prontas e serão as nossas fiéis companheiras durante mais esta jornada.

Na hora de escolher como transportar todo o nosso material ainda ponderamos duas hipóteses: mochila ou íamos novamente de atrelado.
Logo após terminarmos o Caminho Francês, concordamos que não voltaríamos a usar atrelado pelas enormes dificuldades sentidas.

Levar apenas mochila torna-nos mais compactos mas tem o inconveniente de cansar demasiado os nossos cadáveres.
Contudo, decidimos dar mais uma oportunidade ao Extrawheel e proporcionar-lhe alguns km's. Levaremos apenas um atrelado, cujos sacos serão repartidos pelos dois.

Como o espaço de carga é menor relativamente a outras viagens, "obrigou-nos" a ser mais selectivos no conjunto de todas as coisas a incluir. Só vai mesmo o indispensável.

Material

O esforço exigido nas várias horas e vários dias em que estamos a pedalar, sujeita o corpo a um desgaste que deve ser prevenido com uma constante hidratação, aliada a uma correcta alimentação.


Não se trata de uma competição mas é fundamental não esquecer este aspecto.
Comer antes de ter fome e beber antes de ter sede...continua a ser o nosso lema.

Os incidentes mecânicos podem acontecer e para isso levamos algum material no caso de surgir algum imprevisto. Este é o tipo de coisa que não nos importamos de levar e trazer sem lhe tocar...é bom sinal!


Hasta Santiago !